domingo, 6 de dezembro de 2009

Quando as folhas caem

Jardineiro - chamou a menina à entrada do jardim - porque é que há árvores que perdem o seu vestido de folhas no Inverno, enquanto outras se protegem do frio com as mesmas folhas do Verão?
- Porque é que lavas a cara todas as manhãs no Lago? Porqueé quer fazes o teu laço diante do espelho todos os dias, quando o Sol assoma à tua janela?
O jardineiro calou-se, enquanto a menina o olhava com um olhar incente de surpresa.
- A água com que lavas a cara de manhã é todos os dias diferente - continuou o jardineiro. - E o laço com que enfeitas o cabelo é o mesmo todos os dias.
- Não entendo.
O jardineiro aproximou-se da entrada e, apontando para as árvores do jardim, disse à menina:
- Não existe uma árvore que não perca suas folhas. Umas despem os seus ramos bocejando todos os Outonos, e outras deixam cair as as suas folhas, pouco a pouco, ao longo do ano, enquanto fazem rebentar folhas novas que substituem as anteriores. Por isso te parece que não mudam a sua roupagem verde.
-E não seria mais fácil ter sempre as mesmas folhas, sem ter de fazer o esforço de as mudar todas as vezes - perguntou a menina, enquanto olhava um carvalho próximo.
- A tua mãe não te faz vestidos novos todas as Primaveras, para que fiques mais bonita e possas deixar de usar os velhos?
- Sim - espoudeu a menina, olhano-o nos olhos.
- E quando um vestido teu fica velho, o que é que a tua mãe faz om ele?
- Transforma-o em trapos ou em retalhos para fazer colchas para a minha cama.
- Então, repara bem. Com as folhas velhas, as árvores dazem uma colcha de retalhoa à sua volta, alimentando o solo com o que depois as sustentará, e dará vida a outras plantas e animais.
Uma expressão de asombro se desenhou na cara da menina.
Um arrepio percorreu as costas do homem, ao contemplar os olhos inocentes da menina.
- Então, sê sábia como as árvores, e quando avida te pedir que deixes cair as folhas velhas da tua mente e do teu coração, não hesites em fazê-lo, para que a tua alma possa dispor de um vestido novo todas as Primaveras.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Rosas pálidas

Ó anémicas! Ó pálidas!
Ausentou-se o sangue
das vossas veias delicadas…
Ó sombras vagas
duma vida exangue!
Ó virgens aladas!…

Nunca pôde encantar-me essa candura
da vossa serena
brancura.
E jamais eu tive
um amplexo de amor
em que no meu peito
se esmagasse
a vossa carne de chorosa Madalena
sem gritos e sem cor…

Ó flébeis, doentias!
– O meu olhar procura a ardência
forte e colorida
das vossas irmãs
rubras e sadias!

A vida é beijada pelo sol
e ungida pela dor!

Deixai que o sol fecunde o vosso seio…
e que o vento vos beije
em convulsões brutais
em convulsões pagãs!
A luxúria, ó pálidas irmãs,
é a maior força da vida!
Sensualizai pois! a vossa carne
arrefecida…
Ó brancas, imaculadas!
Ó virgens inúteis
e decepadas…

terça-feira, 17 de novembro de 2009

A rosa e o mar


Eu gostaria ainda de falar
da rosa brava e do mar.
A rosa é tão delicada,
o mar tão impetuoso,
que não sei como os juntar
e convidar para o chá
na casa breve do poema.
O melhor é não falar
sorrir-lhes só da janela.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

domingo, 1 de novembro de 2009

O caracol e a rosa

Em volta do jardim havia um bosque de avelãs e mais adiante estendiam-se os campos e os prados, nos quais havia vacas e ovelhas; porém no meio do jardim havia uma roseira em plena floração. A seus pés estava um caracol, o qual valia muito, segundo a sua própria opinião.
– Espere que chegue o meu tempo dizia. – Farei muito mais do que dar rosas, avelãs ou leite, como as vacas,ou ovos como as galinhas.
– Espero muito de ti – respondeu a roseira. – Poderei saber quando veremos essas maravilhas que tanto anuncia?
– Levarei para isso o tempo que achar necessário – replicou o caracol. – Tu tens sempre tanta pressa no teu trabalho, que não chegas a despertar a curiosidade de ninguém.
No ano seguinte, o caracol estava quase no mesmo lugar de antes, isto é, ao sol e ao pé da roseira; esta estava cheia de botões, que começavam a abrir-se, mostrando umas rosas magníficas, sempre viçosas e novas.
E o caracol, mostrando meio corpo para fora da concha, esticou os seus tentáculos e encolheu-os novamente, para voltar a esconder-se.
– Tudo tem o mesmo aspecto do ano passado. Não se vê o mínimo progresso em nenhum lugar. A roseira está coberta de rosas ... mas nunca fará nada de novo.
Passou-se o verão e logo após o outono; A roseira dera rosas lindas, até que começaram a cair os primeiros flocos de neve.
O tempo ficou húmido e tempestuoso e a roseira inclinou-se até o solo, enquanto o caracol se escondia dentro da terra.
Começou novo ano e a roseira reviveu. 0 caracol também apareceu.
– Tu já és uma roseira velha – disse o caracol – de forma que logo secarás. Tu já deste ao mundo tudo o que havia dentro de ti. E se isso valeu alguma coisa, é assunto que não tenho tempo de examinar; mas o certo e que tu não fizeste nada para o seu aperfeiçoamento, senão teria produzido algo diferente. Podes negá-lo? E agora vais-te converter numa vara seca e desnuda. Entendes o que digo?
– Estás a assustar-me – exclamou a roseira. – Nunca pensei nisso. jamais imaginei o que estás a dizer
– Não, tu não te preocupaste muito em pensar em algo. – Porém, nunca pensaste em averiguar a razão de tua floração.Porque davas tu flores? E por que motivo o fazia sempre de forma igual?
– Não – replicou a roseira – Dei flores com a maior alegria, porque não podia fazer outra coisa. O sol era tão quente e o ar tão bom!... Eu bebia o orvalho e a chuva; respirava... e vivia. Logo me chegava novo vigor da terra, assim como do céu. Experimentava um certo prazer, sempre novo e maior, e era obrigada a florescer. Tal era a minha vida, não poderia fazer outra coisa.
– Tu levaste sempre uma vida muito cómoda – observou o caracol.
– Na realidade, sinto-me muito favorecida – disse a roseira – e, de agora em diante, não vou possuir tantos bens. Tu tens uma dessas mentes inquiridoras e profundas e de tal maneira és bem dotado, que não duvido de que assombrarás o mundo sem demora.
– Não tenho tal propósito – replicou o caracol. – O mundo não e nada para mim. Que tenho a ver com ele? Já tenho muito o que fazer comigo mesmo.
– Em todo caso, não temos o dever, na terra, de fazer o que pudermos pelo bem dos demais e de contribuir para o bem comum com todas as nossas forças? Que é que tu já deste ao mundo?
– Que foi que eu dei? Que lhe darei? Pouco me importa o mundo. Produz as suas rosas, porque sabes que não podes fazer outra coisa; que as avelãs dêem avelãs e as vacas leite. Cada um de vocês possui um público especial; eu tenho o meu, dentro de mim mesmo, Vou entrar dentro de mim e permanecer aqui. O mundo para mim não é nada e não me oferece o mínimo interesse.
E assim o caracol entrou em sua casa e fechou-se.
– Que lástima! – exclamou a roseira. Não posso colocar-me num lugar abrigado, por mais que o deseje. Sempre tenho que dar rosas e mudas de roseira. As folhas caem ou são arrastadas pelo vento e o mesmo acontece com as pétalas das flores. Em todo o caso, eu vi uma das rosas entre as páginas do livro de orações da dona da casa; outra de minhas rosas foi colocada no peito de uma jovenzinha muito formosa, e outra, enfim, recebeu um beijo dos lábios suaves de um menino, que se entusiasmou ao vê-la. Tudo isso me encheu de felicidade e será uma das recordações mais gratas de toda a minha vida.
E a roseira continuou florescendo com a maior inocência, enquanto que o caracol continuava retirado dentro da sua viscosa casa. Para ele o mundo não valia nada.
Passaram-se os anos.
O caracol voltou para a terra e a roseira também; do mesmo modo a rosa seca no livro de orações já desaparecera, mas no jardim floresciam novas rosas e também havia novos caracóis; e escondiam-se dentro de suas casas, sem se incomodarem com os outros... porque para eles o mundo não representava nada.
Teremos que contar também a história deles. Não, porque, no fundo, não se diferenciariam nada daquilo que já contamos.




domingo, 25 de outubro de 2009

Poema


Se pudesse, coroava-te de rosas,
neste dia:
de rosas brancas e de folhas verdes,
tão jovens como tu, minha alegria.


Terra onde os versos vão abrindo,
meu coração, não tem rosas para dar;
olhos meus, onde as mágoas vão subindo,
cerrai-vos, deixai de chorar...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Poção de rosas


Aquela hora suave do meio da tarde em que parece que o mundo pára, no discreto perfume de uma rosa!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Poção de rosas


Rosa acordada, que sonhaste?
Nas pálpebras molhadas vê-se ainda
Que choraste...


Foi algum pesadelo?
Algum presságio triste?
Ou disse-te algum deus que não existe
Eternidade?


Acordaste e és bela:
Vive!
O sol enxugará esse teu pranto
Passado.


Nega o presságio com perfume e encanto!
Faz o dia perfeito e acabado!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Do amor das árvores



A chegada do Outono começava a anunciar-se no pomar do jardineiro. Os carvalhos tinham começado a despir-se timidamente, deixando cair uma folha aqui, outra ali, na relva das imediações do tanque.
Um casal jovem, que costumava procurar lugar para as suas carícias nos cantos solitários do jardim, foi ver o jardineiro.
- Desculpa incomodarmos-te, jardineiro, mas consideramos-te uma pessoa pessoa sábia e boa,e gostaríamos que nos desses um conselho para a nova vida que a minha amada e eu vamos começar. Dentro em breve vamos unir as nossas vidas pelo casamento, e agradecíamos-te que nos dissesses como deveríamos cuidar do nosso amor, para que não murche antes do tempo.
- Não há ninguém sábio e bom - respondeu o jardineiro com um sorriso -, porque a sabedoria e a bondade são como um buraco no chão: quanto maior é, mais vazio o achas.Mas, já que me pedem um conselho, vou-vos dizer 0 que a Vida achou por bem mostrar-me, às vezes da maneira severa, às vezes como uma carícia.
E convidando-os a sentarem-se na relva, disse-lhes: - Procurem que o vosso amor não seja como a relação do fungo com o carvalho, que lhe enterra as raízes no tronco para lhe chupar a seiva e a força. Que não seja como a do tojo com o rebento do pinheiro, que cresce e o envolve até o asfixiar entre os seus espinhos. Procurem, antes, que o vosso amor seja como o das árvores. Cada uma abraçando a terra com as suas próprias raízes, erguendo-se ao Sol da manhã com os braços estendidos para o céu, dando graça por cada novo amanhecer.
E tenham cuidado de enterrar as vossas raízes a uma distância suficiente, para que as forças do ramo de um, não faça fugir os ramos do outro, dobrando-lhe o tronco e impedindo-o de procurar as nuvens
Zelem, pois, para manter a distância precisa, para que a terra humedeça sobejamente as vossas raízes e o vento possa limpar as folhas secas dos vossos ramos. Para que possam fazer uma copa ampla e robusta, que dê sombra ao caminhante e ninho aos pássaros do céu.
E assim, quando crescerem e tiverem deixado as vossas sementes ao vento, as pontas dos vossos ramos tocar-se-ão lá no alto, para que dancem com regozijo ao som da Dança da Vida.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Poção de rosas


As últimas rosas de Setembro caem nas alamedas do meu jardim. Juntam-se às folhas castanhas, amarelas,e de um tom de verde-seco. Arrastam-se num manto, deixando um perfume de doces recordações. E o Outono vem, aos poucos, instalar-se neste canto de serenidade. Apanho uma rosa já seca e murcha que deixa nas minhas mãos um calor de saudade.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Já é tarde




Já é tarde
e o vento baloiça nas árvores
que dançam ao som do seu canto
burburinho imerso, secreto silêncio
as flores rubras de sangue ardente
as rosas doiram o ar com o seu reflexo metal
brancos lírios em seu vítreo suspiro
o ar doce de adocicado mel
agreste sândalo, leve aroma e jasmim
brisa suave, instante perdido na eternidade
mãos violáceas, rubros corpos ensombrados pelo ocaso

Já é tarde

Poção de rosas


Vestida para dançar


Eu apenas queria vestir
a tua nudez feita graça
mas que tecido de rainha
fará sombra tão daninha
ao veludo de uma pétala
ao perfume de uma sépala

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Poção de rosas

A rosa:
tua nudez feita graça

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Poção de rosas


Ah, como era impossível suster a forma das rosas.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Poção de rosas

As rosas abrem-se à vida todos os dias.
Pensarão elas que irão murchar ou morrer?
Ou apenas vivem o momento do doce perfume e fugaz beleza?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A fada triste


Uma noite estival, em que o vento abafado da terra não a deixava refrescar-se com o orvalho, o jardineiro saiu da cabana com a intenção de tomar banho. A madrugada já ia alta, mas depois de muitas voltas na cama, tentando conciliar o sono inutilmente, o jardineiro decidiu levantar-se para se ir refrescar no tanque.
Pelo caminho, quando passava junto de um canteiro de prímulas, de repente descobriu uma fada sentada numa flor. O jardineiro deteve-se a observá-la, mas a fada parecia não dar pela presença do homem. Com os cotovelos nos joelhos, mantinha a cabeça apoiada entre as mãos, com a expressão triste de uma criança.
- Boa noite, pequena fada- disse-lhe o jardineiro, sobresssaltando a fada de tal maneira, que caiu da flor e desapareceu entre a folhagem.- Desculpa ter-te assustado- voltou a dizer-lhe, quando a viu assomar novamente por entre as folhas.
- Não te preocupes, jardineiro- disse a fada,- Eu é que tive a culpa, por não ter reparado na tua presença.
E voltou a sentar-se na mesma flor e na mesma posição em que o jardineiro a tinha encontrado.
- O que tens?- perguntou ele- Vejo-te triste e abatida.
A fada olhou para ele como quem sai de um sonho, e demorou um momento a responder.
- Oh... bom é que... não gosto de ser fada.
- Porquê?- perguntou o jardineiro surpreendido.
- Porque gostava de ser esperta como os gnomos... ou inteligente como vocês, os homens.
O jardineiro meditou um momento na resposta da fada, e passado um pouco disse-lhe:
- A inteligência é útil para umas coisas, mas não para outras.
- Como não? A inteligência é muito importante na vida...
- Não, não, não!- interrompeu-a o jardineiro. -O importante não é ser inteligente, mas sim sábio!
- Não te entendo- disse-lhe a fada, abanando a cabeça.
O jardineiro sentou-se no chão diante da fada.
- O carvalho não é inteligente, mas sim sábio; quando é capaz de criar sementes cheias de vida
que nem o homem mais inteligente seria capaz de criar.
A águia não é inteligente, mas sim sábia; quando trata da cria, sabe exactamente o que tem de fazer para que cresça sã e se transforme numa ave majestosa. No entanto há muitos homens que são inteligentes, mas não são sábios; quando se envolvem em guerras e ódios, e utilizam a sua inteligência para descobrir novas formas de destruir e fazer mal a outros homens.
Não confundas inteligência com sabedoria, e não desejes ter algo de que não necessitas para cumprir a tua missão que a Vida te encomendou. Ela dá a cada um o que necessita para fazer o que tem a fazer, e dá-lhe essa sabedoria na sua própria natureza para que, sem nenhum esforço, possa fazer as coisas necessárias no momento necessário.
A fada esboçou um belo sorriso.
- Creio que te entendo.
O jardineiro suavizou o tom da sua voz e, com palavras carregadas de ternura, disse-lhe:
- Não desejes ser mais do que aquilo que és: uma delicada e bela fada. Porque com a tua beleza enches os bosques de encanto e alegria, e porque com a tua sabedoria, salpicas os campos com as cores das flores e a fragrância das plantas aromáticas.
Que seria de nós, os homens, sem a frescura do teu trabalho? Para quê querermos tanta inteligência se não formos capazes de dar o aroma a uma flor, nem a magia intocável ao bosque profundo?
E a fada deu um pulo de alegria, lançou-se num voo rápido à cara do jardineiro, e dando.lhe um beijo na ponta do nariz, desapareceu por entre os ramos de uns cedros próximos.
No dia seguinte, uma vez mais, os vizinhos da aldeia interrogaram-se o que se teria passado com o nariz do jardineiro, que brilhava tanto com aquele reflexo dourado.

domingo, 16 de agosto de 2009

Poção de rosas


Quando a noite chegar, vai à janela e olha o teu jardim banhado pelo luar. Devagar enche o peito com o suave perfume das rosas. Escuta o que te traz essa fragrância, ouve os lamentos, os risos e as pequenas aventuras. É agora a tua vez. Fala. Baixinho. Ou canta.Se preferires, chora. O jardim escutar-te-á.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Quietude




E as rosas quietas
de vento vestidas
de branco enfeitadas
num Verão que volta
em revolto canto
em singelo manto
de noite
e de pétalas

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Vento de Verão

Um vento quente e seco, o chamado vento de leste, varre o jardim.
O sol arde e torna-se quase impossível deixar a casa, que fica fresca porque se fecham as portadas.
O meu jardim está parado, como que morto, nem as rolas se ouvem.
Dentro de casa, nesta penumbra fresca, leio um romance antigo arrastada pela melancolia.
Pelo entardecer, já quase noite, saio para o jardim, banhado pelos repuxos de água fresca.
Por baixo dos pés sinto o solo quente. Vou caminhando pelas folhas secas do calor. Tiro esta flor que murchou num canteiro, acaricio um botão de rosa que pela manhã, a continuar este calor, já estará demasiado aberto.
Caminho, uma sombra branca num jardim de Verão.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A rosa

Lânguida, no trono
macio de folhas
repousa
a rainha flor.
Abre-se toda em
aveludadas pétalas
de delicado
odor.
Solitária no vaso,
a rosa
pinga vermelho
na tarde sem cor.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Poção de rosas


De noite as rosas dormem, mas o seu perfume espraia-se por todo o jardim, num aroma morno que a brisa espalha.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Poção de rosas

Ontem, choveu todo o dia.
No meu jardim, cada pétala de rosa qua caía, era uma lágrima esquecida.

domingo, 19 de julho de 2009

Poção de rosas


Numa rosa bate um coração. Cala-te e escuta, ouve o seu pulsar. Saberás o seu segredo. Não o contes a ninguém. O segredo de uma rosa é sagrado.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Procura-se uma rosa




A rosa de que preciso
é flor nativa de mim.
Eu quero a rosa precisa
princípio
meio e fim.

A rosa de que preciso,
não a rosa dos poetas...
Mas a rosa imponderável
dos loucos
e dos profetas.

A rosa de que preciso,
não das mãos dos jardineiros...
Quero a rosa padecida
das feridas
dos romeiros.

A rosa de que preciso
vem do olhar dos passarinhos.
A rosa para ser rosa
não precisa
dos espinhos.

Eu quero a rosa votiva
dos vitrais e reposteiros
entre preces conspirada
no conluio
dos mosteiros.

A rosa de que preciso
não é a rosa-dos-ventos...
Quero a rosa irresoluta
biruta
dos cata-ventos...

A rosa de que preciso
vem de abismos e desertos
como a palavra perdida
reencontrada
em meus afectos.

Às vezes mais que loucura!
Às vezes mais que razão...
A rosa de que preciso
é amor
mais que paixão...


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Poção de rosas



Quando se oferece uma rosa, oferece-se um jardim inteiro.


sábado, 11 de julho de 2009

Poção de rosas


Para me amar é só começar, para manter-me em teu canteiro é só regar.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Poção de rosas

Ser simplesmente e apenas uma rosa.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Rosa seca



Caiu de um livro no meu regaço
uma dessas velhas
relíquias de um sonho de juventude:
uma rosa seca.

E eu perguntei ao livro de onde vinha
aquela flor.
O livro calou-se: não chegou ao meu ouvido
nem palavra nem som.

Então meus olhos descobriram uma página
onde havia uma nódoa.
Há muito tempo, muito tempo alguém tinha chorado.
Oh, quando e onde?

Beijei a rosa murcha, a rosa seca
e a lágrima também.
Há muito tempo alguém tinha amado:
Oh, quem? e a quem?


terça-feira, 30 de junho de 2009

Poção de rosas





Quando as rosas falam baixinho
As palavras do coração desabrocham
E compõem duetos inesperados
E o amor transforma-se em jardim

sábado, 27 de junho de 2009

Poção de rosas


RAZÃO DE SER


A razão de ser assim
é um jardim
sem ter fim
é o meu eterno sim

A razão do meu amor
é este forte clamor
é do espinho o ardor
que se ergue numa flor

A razão de ser formosa
vem da tua e minha prosa
poética que se é chorosa
te rega e te faz rosa


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Junho de 2009

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Poção de rosas


Eu não vou
desistir do amor
nem da paz
nem das rosas
nem dos sonhos
nem de ti
e nem Deus
vai desistir
de mim...

Mesmo assim
haverá
mais espinhos
de plantão
do que flores
no jardim...

Pois o resto
é a razão
de ser assim...



domingo, 21 de junho de 2009

O mistério da vida


O bosque engalanava a sua alma perante a cálida paz do Verão com uma sebe de troncos de luz criados pelo sol, na sua tentativa de perfurar a espessura do dossel.
O calor, sensível como a mão de um amigo sobre o ombro, parecia convidar o jardineiro a descansar na sombra do manancial. Os esforços ficavam para trás. O sentido que a sua vida tinha levado até àquele momento, espreguiçava-se depois da sesta estival; e a soma dos seus êxitos e fracassos, esfumava-se como uma borboleta na espessura do bosque. Com o sossego no olhar e o coração nu, o jardineiro recostou-se no tronco de um álamo, aspirando o bafo do bosque por entre os fetos. Na eternidade de um instante, a semente de um pinheiro lançou-se no vazio desde a árvore que lhe dera vida e, rodopiando com a sua aleta até ao solo fértil da zona de sombra. Duas lágrimas trémulas assomaram os olhos do jardineiro, que, com voz muito baixa, disse à árvore:
_ Obrigado, irmão pinheiro, por me mostrares o mais profundo mistério da vida.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Manhã de Verão


Da minha varanda vejo a manhã que surge. Uma manhã de um dia de verão alegre e quente.
Da minha varanda respiro os aromas das flores que sobem até mim, consigo ver aquelas que durante a madrugada abriram, adivinho as minúsculas gotas de orvalho semelhante a pequenos cristais.
Vou descer as escadas e saudar todo o jardim.
As árvores e os arbustos espalham sombras de luz pelos caminhos.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Rosa


Rosa formosa
Sagrada rosa
Feminina flor
Fonte de amor
Aroma de vida
Sentida
Plena de Lua
Nua
Orvalhada de estrelas
Rubra centelha
Ventre fecundo
Portal do mundo
Parindo vermelho
Corola sagrada
Flor amada
Rosa dos ventos
Rosa dos tempos
Rosa mulher
Rosa sangue
Rosa sangrada
No palco dos Homens
Ferida,humilhada
Esquecido Poder
Essência Feminina
Do Éden das flores
Em êxtase sublime
Se redime
Num mundo de inocência reprimida
Deprimida
Renasce Deusa todo dia
Ana,joana,mariana,maria
Sempre flor,sempre formosa
Eternamente ROSA...

sábado, 13 de junho de 2009

A vida todos os dias



O roseiral mais antigo do meu jardim, foi o lugar que a gatinha preta escolheu para dar à luz os seus bebés.
Fiz-lhe um berçário muito confortável a partir de uma cesta velha de palha e com um cobertor que pertenceu a um dos meus sobrinhos.
Gatinhos pequeninos, que ainda não abriram os olhos. Todos pretinhos como a mãe.
O roseiral mais antigo do meu jardim abriga novas vidas e as rosas que vão nascendo exalam um perfume de vida palpitante.
É a primavera em flor, a vida que nasce e renasce a cada momento.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Os cantos de Deus



Não é de estranhar que os seus vizinhos achassem o jardineiro um tanto ou quanto esquisito. Viam-no falar com as plantas, acariciá-las e tratá-las com carinho. E por seu lado, não ganhava dinheiro com elas, o que aquelas pessoas achavam ainda mais estranho.
_ Porque é que acaricias e falas com as tuas plantas, se elas não são capazes de sentir a tua mão nem de te ouvir? - acabou por lhe perguntar um dos seus vizinhos.
_ E como sabes que não me ouvem? - respondeu o jardineiro
O vizinho ficou perplexo.
_ Homem, toda a gente sabe que as plantas não são capazes...
_ A maioria dos homens também não sente nem ouve Deus - interrompeu o jardineiro -, e mesmo assim Deus não deixa de falar e cuidar de nós.
O vizinho sentia-se cada vez mais confuso.
E, sentindo-se um tanto incomodado, voltou a perguntar:
_ E como sabes que Deus existe? Eu nunca o vi, nem nunca o ouvi. Nem sequer notei esses cuidados de que falas.
O jardineiro baixou o olhar com tristeza e ficou calado; e quando o vizinho já pensava que naõ conseguia responder-lhe, olhou-o nos olhos com ternura, e disse-lhe:
_ Nas noites de luar só te dás conta de que os grilos cantam quando se calam, e é o silêncio que te alerta para a presença dessa vida escondida. Deus nunca deixou de nos cantar, nunca deixou de nos falar e mimar, e é por isso que a maioria dos homens não se apercebem das Suas carícias.
" Se Deus deixasse de cantar, logo a seguir seria demasiado tarde para nos darmos conta de que estava ali."
E, a sorrir, acrescentou:
_ Mas não te preocupes. Deus nunca deixará de cantar.
_ Sendo assim, nunca poderemos convencer-nos de que Deus existe - respondeu o vizinho, com um sorriso triunfante.
O jardineiro desatou a rir, e poisando a mão no ombro do vizinho, disse-lhe:
_ Passa-se o mesmo com os grilos... Se fizeres silêncio dentro de ti, o silêncio revelar-te-á os cantos de Deus.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Poção de rosas



O jardineiro é fiel a todas as rosas de um jardim?

sábado, 6 de junho de 2009

Poção de rosas


"A rosa dos amores
A Baco misturemos!
De rosas coroados
A taça levantemos!
O riso sobre os lábios,
Bebamos sob as rosas!
Rosa, glória das flores,
Da primavera encanto,
Mimo dos próprios deuses,
Nas cores voluptuosas!
Ergamos nossas taças.
Bebamos sob as rosas!
Se o filho de Afrodite
Vai, na dança ligeira,
Dançar em meio às Graças,
Tu, rosa, estás-lhe ornando
A bela cabeleira!...
Oh! já! Trazei mimosas
Coroas! Soem liras!
Fronte cheia de rosas,
Eu vou dançar, Dionissos
Com a rapariga nova,
Os véus a voar nos ares,
De seios tremulantes,
Em torno aos teus altares!"

"Todos, coberta a fronte
De rosas -- rubra orgia --
Oh! vamos rir, bebendo
O vinho da alegria!"

"_Com a primavera coroada,
Louvor à rosa delicada!
Junta-te, amiga, a estes meus cantos!"

"_Do artista é objecto dos cuidados
Entre os discursos que ela excita.
Planta das Musas, delicada,
É doce até por seus espinhos,
Quando nos ferem nos caminhos
Flóreos, estreitos e aculeosos...

_Doce é, nas mãos tendo-a, aquecê-la
Com dedos moles, voluptuosos...
Ó suave flor! terna e ligeira
Acendedora de amores..."

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Poção de rosas


Ausências e cegueiras absolutas
ofereces às vespas e às abelhas,
e a quem te adora, ó surda e silenciosa,
e cega e bela e interminável rosa

domingo, 31 de maio de 2009

O mês de Maio


O mês de Maio chega ao fim, em toda a sua plenitude, fazendo prever um Junho quente e de aromas a Verão.
No meu jardim, o sol entra logo pela manhã e só o deixa muito para o fim do dia.
No meu jardim, os perfumes inebriantes são levados por uma brisa morna que vagueia lenta.
No meu jardim, ouvem-se as rolas no seu clamar rouco de namoros de ave.
No meu jardim, as rosinhas de Sta. Teresa trepam pelos muros, sobem nos caramanchões e espalham-se nos caminhos, deixando cheiros doces de dias parados.
No meu jardim, o lago embala os peixes dourados e vermelhos que se escondem debaixo dos nenúfares.
Com a noite, virá a água fresca dos repuxos e o meu jardim adormece limpo, lavado e puro, debaixo de um céu de onde caem as estrelas.

domingo, 24 de maio de 2009

Poção de rosas




As lágrimas das rosas nem sempre são tristes. Por vezes são doces de néctar e, o Jardineiro, guarda-as no coração.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Poção de rosas


Cultive o hábito da preferência pelas pessoas que são gratas pelo facto dos espinhos conterem rosas, mais do que pelas pessoas que vivem se queixando de que as rosas têm espinhos.

domingo, 17 de maio de 2009

A mais bela das flores


Vejo-te triste e pensativa - disse o jardineiro à silenciosa rapariga.
Ela olhou-o com os olhos apagados e, sem responder, voltou a baixar a cabeça.
- O que te aconteceu para hoje estares tão sombria? Vens todos os dias ao entardecer ao meu jardim e, transformas-te todos os dias na flor mais terna e mais fragrante...
- Não sou nenhuma flor bonita - interrompeu a rapariga.
O jardineiro calou-se.
- Hoje vi a minha imagem no lago - continuou ela sem levantar a cabeça. - Tornei-me finalmente mulher... mas não possuo a beleza com que tanto sonhei.
O jardineiro percebeu.
- Toda a gente diz que as rosas são as flores mais bonitas. E na verdade são! - afirmou, enquanto a rapariga voltava o rosto para ele.
- E, no entanto, eu gosto da pequena verbena que cresce ao pé das roseiras, e sinto prazer em contemplar os travessos amores-perfeitos, as hirtas e introvertidas tulipas, e as margaridas do campo, livres sob o Sol.
- Queres dizer, jardineiro, que as verbenas são mais belas do que as rosas?
O jardineiro abandonou o olhar no céu do entardecer.
- Quero dizer que realmente não há mais Beleza nesta ou naquela flor. A Beleza está no olhar de quem contempla. Se o olhar for suficientemente atento, encontrará a deusa da Beleza para onde quer que olhe, porque Ela deu à luz tudo o que existe.
Mas, se mesmo assim desejasses ser a mais bela e converter-te numa imagem da deusa da terra, olha o céu, contempla as grandes nuvens que sulcam o majestoso azul, e repara bem que as brilhantes nuvens de algodão, de formas arredondadas e perfeitas, empalidecem perante a beleza daquelas que, perfumadas pelos ventos, permitem a passagem dos raios do Sol.
O jardineiro calou-se um momento, enquanto dirigia o olhar para a rapariga, que agora observava as nuvens.
-Deixa que a luz da tua alma saia por todos os poros da tua pele, e toda a gente verá em ti a Beleza mais radiante.

sábado, 16 de maio de 2009

Poção de rosas




As Rosas trazem mensagens
Sejam elas de qualquer cor
Trazem a flor das imagens
Falam amizade e de amor

.
A Rosa branca pede paz
Já a Rubra é pura paixão
Enquanto a amarela liquefaz
Quem ousou magoar o coração

A Rosa rosa é toda ternura
Quem a recebe com meiguice
Rosa cor de laranja , é ventura
Não se engane, não é tolice

.
Rosa Negra, é a mais pura
Tão difícil, virou um mito
Quem por ela tanto procura
É dito: coitado, um desdito!


.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Poção de rosas


O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O perdão das rosas


Conseguem as rosas perdoar o Jardineiro se, por um cruel acaso, ele delas se esqueceu?

domingo, 10 de maio de 2009

Manhã


A manhã está cinza e fria.
No jardim, um passarinho canta baixinho a sua alegria.
A noite adormeceu as flores que, agora acordadas, exibem cores e perfumes discretos.
Passeio pela alameda das rosas, acariciando está pétala, parando nesta rosa cor de fogo que desabrochou para a vida. Não me atrevo a tocar-lhe mais, uma rosa é tão frágil... inclino-me e beijo-a muito ao de leve.
Quando me ergo, olho o céu e para lá das nuvens de chumbo, vejo o azul-claro. Vai ser um lindo dia.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

As rosas dançam


"Claro que as rosas dançam. Fez-me lembrar aquela lendas da menina que perguntava porque é que as rosas estavam murchas. É que tinham bailado a noite inteira e estavam cansadas.
Tal como as rosas, nós extasiados e iluminados pela poesia da dança percebemos que somos os bailarinos que ensaiam o seu próprio destino, encontrando-nos em cada passo adiante, mais conscientes da Eternidade e com a certeza de que podemos voar cada vez mais alto e levar a nossa ajuda cada vez mais longe."

domingo, 3 de maio de 2009

Dança das rosas


No bailado de luz que nos envolve
Esta é a mais bela dança:
Em coreografia deslumbrante,
O carmesim ensaia nuances
Em lilases e azuis cambiantes.

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Dos jardins da boa nova,
Rosas brancas em semente,
Esperam a luz da bondade,
P'ra desabrochar livremente
O suave perfume da caridade.

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E sempre o sonho se renova,
Ao despertar de sublime prece,
Nos espaços, na individualidade,
Linda rosa branca transparece,
Norteando caminhos da verdade.

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Ao divino amigo tudo comove!
Desd'a oração, simples e singela,
Dos corações 'inda adormecidos,
À poesia mais sublime e bela
Dos espíritos de luz reunidos.

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A melodia da paz, em trovas,
Ilumine os corações enamorados!
São os mensageiros de todo amor,
Nas flores, canções, bailados,
Na seara do amigo semeador...