quarta-feira, 10 de junho de 2009

Os cantos de Deus



Não é de estranhar que os seus vizinhos achassem o jardineiro um tanto ou quanto esquisito. Viam-no falar com as plantas, acariciá-las e tratá-las com carinho. E por seu lado, não ganhava dinheiro com elas, o que aquelas pessoas achavam ainda mais estranho.
_ Porque é que acaricias e falas com as tuas plantas, se elas não são capazes de sentir a tua mão nem de te ouvir? - acabou por lhe perguntar um dos seus vizinhos.
_ E como sabes que não me ouvem? - respondeu o jardineiro
O vizinho ficou perplexo.
_ Homem, toda a gente sabe que as plantas não são capazes...
_ A maioria dos homens também não sente nem ouve Deus - interrompeu o jardineiro -, e mesmo assim Deus não deixa de falar e cuidar de nós.
O vizinho sentia-se cada vez mais confuso.
E, sentindo-se um tanto incomodado, voltou a perguntar:
_ E como sabes que Deus existe? Eu nunca o vi, nem nunca o ouvi. Nem sequer notei esses cuidados de que falas.
O jardineiro baixou o olhar com tristeza e ficou calado; e quando o vizinho já pensava que naõ conseguia responder-lhe, olhou-o nos olhos com ternura, e disse-lhe:
_ Nas noites de luar só te dás conta de que os grilos cantam quando se calam, e é o silêncio que te alerta para a presença dessa vida escondida. Deus nunca deixou de nos cantar, nunca deixou de nos falar e mimar, e é por isso que a maioria dos homens não se apercebem das Suas carícias.
" Se Deus deixasse de cantar, logo a seguir seria demasiado tarde para nos darmos conta de que estava ali."
E, a sorrir, acrescentou:
_ Mas não te preocupes. Deus nunca deixará de cantar.
_ Sendo assim, nunca poderemos convencer-nos de que Deus existe - respondeu o vizinho, com um sorriso triunfante.
O jardineiro desatou a rir, e poisando a mão no ombro do vizinho, disse-lhe:
_ Passa-se o mesmo com os grilos... Se fizeres silêncio dentro de ti, o silêncio revelar-te-á os cantos de Deus.

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