domingo, 29 de março de 2009

A menina e o jardineiro


Jardineiro - chamou a menina à entrada do jardim -, porque é que há árvores que perdem o seu vestido no Inverno, enquanto outras se protegem do frio com as mesmas folhas do Verão?
- Porque é que lavas a cara todas as manhãs no lago? Porque é que fazes o teu laço diante do espelho todos os dias, quando o Sol assoma à tua janela?
O jardineiro calou-se, enquanto a menina o olhava com um olhar inocente de surpresa.
- A água com que lavas a cara de manhã é todos os dias diferente - continuou o jardineiro. - O laço com que enfeitas o cabelo é o mesmo todos os dias.
- Não entendo.
O jardineiro, apontando para as árvores do jardim, disse à menina:
- Não existe uma árvore que não perca sa suas folhas. Umas despem os seus ramos bocejando todos os Outonos, e outras deixam cair as suas folhas, pouco a pouco, ao longo do ano, enquanto fazem rebentar folhas novas que substituem as anteriores. Por isso te parece que não mudam a sua roupagem verde.
- E não seria mais fácil ter sempre as mesmas folhas, sem ter que fazer o esforço de as mudar todas as vezes? - perguntou a menina.
A tua mãe não te faz vestidos novos todas as Primaveras, para que fiques mais bonita e possas deixar e usar os velhos?
- sim - respondeu a menina.
- E quando um vestido fica velho, o que é que a tua mãe faz com ele?
- Transforma-os em trapos ou em retalhos, para fazer colchas para a cama.
- Então, repara bem. Com as folhas velhas, as árvores fazem uma colcha de retalhos à sua volta, alimentando o solo com o que depois o sustentará, dando vida a outras plantas e animais.
- As coisas que as árvores sabem, jardineiro!
O jardineiro contemplou os olhos inocentes da menina.
- Então, sê sábia como as árvores, e quando a vida te pedir que deixes cair as folhas da tua mente e do teu coração, não hesites em fazê-lo, para que a tua alma possa dispor de um vestido novo todas as Primaveras.

4 comentários:

Delfim Peixoto disse...

Delicioso. Não conhecia de todo. Soube bem ler e saborear a Inocência e uma "boa lição".

rosa disse...

Obrigada Delfim.

Beijos de paz

Dalva Nascimento disse...

Bom dia Rosa!

Que adorável tua visita no Interlúdio! O poema do Campanella ficará ótimo aqui, no teu blog que rescende a rosas...

Beijos e apareça sempre, querida!

rosa disse...

Flor,

Muito obrigada!

Venha ao meu jardim, sempre que quiser repousar.

O poema de Campanella cá estará para recebê-la, e minhas rosas também

Beijos de paz